O maior problema do confuso e esvaziado prêmio FIFA The Best 2023 não é Messi ter ganhado, mas Messi ainda participar. Não há como colocar junto de outros mortais que jogam bola alguém que define uma era no futebol. Os ecos da Copa do Mundo, que não entrava no período de avaliação, podem ter influenciado alguns desavisados, mas é fato que dispor Messi e Haaland numa mesma prateleira de opções é como colocar um tigre ao lado de um hidrante e tentar convencer alguém de que ambos pertencem à mesma linhagem evolutiva.
Eis a problemática para a qual nem Dadá Maravilha teria a solucionática. Enquanto conseguir colocar uma perna na frente da outra e executar o fundamental ato evolutivo de CAMINHAR, Messi é o melhor do mundo — em Miami, Rosario, de férias em Ibiza ou no pátio de casa. Se Messi aparece em uma lista, precisa ser votado, pois todas as outras opções se transformam em poeira cósmica que orbita em torno do legado do argentino. E cada voto em Messi, apesar da aparente injustiça considerando alguma breve janela temporal, na verdade é uma homenagem, uma reverência e um agradecimento a mais.
A única saída é que Messi não conste em mais nenhuma lista, em nenhum prêmio. Que seja aclamado, se torne de fato (pois já é de direito) hors concours. Que antes de cada premiação seja exibida uma mensagem, de preferência em desvairado capslockismo, com conteúdo mais ou menos assim: “Esta criatura está acima de todos os prêmios. Vocês, pessoas comuns, que se engalfinhem”. Que o próprio prêmio leve o seu nome e apresente sua estampa. Do contrário, continuará ganhando (e ganhando merecidamente), mesmo que o ano seja 2074 e alguém o tenha flagrado em um vídeo caseiro dando um rolinho no seu quinto bisneto.
Assim como aconteceu com Pelé e Maradona, sucede que Messi é vítima de uma espécie de anacronismo: não pertence ao presente, tempo em que vive, pois já se tornou personagem histórico, que não pertence mais aos debates, premiações e burburinhos. Desde a Copa do Mundo, seu destino está reservado a ilustrar enciclopédias, estampar cédulas de dinheiro, se transformar em nome de praças e aeroportos, frequentar altares pagãos e ser convertido em estátuas de duvidosa fidelidade estética. A única discussão que o envolve diz respeito a ser ou não o melhor de todos os tempos.
Fonte: G1
Por: Se Liga Macajuba