Para muitos dos que foram ontem (1º) à Esplanada dos Ministérios acompanhar de perto a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, a passagem de 2022 para 2023 representa mais do que a transição de um ano para outro. Representa a retomada de um caminho que, segundo eles, foi interrompido há quatro anos, na busca por um país mais justo e que respeita os direitos de seus cidadãos.
Muitos dos presentes percorreram centenas ou milhares de quilômetros para participar deste momento histórico que marca o retorno de Lula ao Palácio do Planalto pela terceira vez. Lideranças indígenas, de religiões de matriz africana, do movimento LGBTQIA+, pessoas com deficiência, movimentos sociais, e outros grupos se disseram excluídos das prioridades do governo federal, até então.
Conhecido pela alcunha maratonista cangaceiro, o pedreiro Francisco Ricardo, 55 anos, deixou de correr a São Silvestre deste ano para estar em Brasília e acompanhar de perto a posse de Lula. A viagem, de Iguatu (CE) até Brasília, foi longa: mais de 1,7 mil quilômetros.
“Minha motivação para vir foi a esperança de termos um governo que crie mais empregos para os nordestinos. A situação em nossa região piorou muito nos últimos anos. Desde a saída da Dilma, os políticos acham que nós, nordestinos, somos ignorantes e tentam nos enrolar. Mas nós sabemos que tudo que vinha sendo feito até então parou desde o início do governo Temer”, disse.
Atingidos por barragens
Longina Miliana de Oliveira, 78 anos, é uma das vítimas do rompimento da barragem em Mariana (MG). “Até o desastre, eu podia pescar e tinha uma roça, mas desde então não tenho mais nada”, disse a integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que percorreu mil quilômetros de Periquito (MG) até a capital federal.
LGBTQIA+
Outro grupo que manifestou identificação com as pautas do novo governo é o LGBTQIA+. Arquiteto e professor universitário, Miguel Carraza, 34 anos, viajou de Uberlândia (MG) até Brasília para participar deste importante momento histórico.
“Os últimos 4 anos foram muito ruins porque nunca nos sentimos abraçados pelo governo. Fomos colocados como pessoas sem direito. A sensação é de que o governo que se inicia vem para nos abraçar. Somos todos iguais e acreditamos no Brasil. Para o país avançar é fundamental o respeito ao povo e aos direitos humanos”.
Povos originários
A índia Pataxó Flor Guerreira, que vive em uma aldeia na divisa de Bahia e Minas Gerais, disse que o governo recém-empossado trará oportunidade aos indígenas. “O novo governo representa uma oportunidade para retomarmos e reconquistarmos nossos direitos e de termos de volta as práticas constitucionais que foram rasgadas pelo último governo não apenas em relação a direitos indígenas, mas de diversos outros grupos”, disse Flor Guerreira.
Segundo ela, a luta de seu grupo não está restrita aos povos indígenas. “Lutamos pela vida de todos; pela terra, pela água, pelos brancos, negros; pelo povo gente e pelo povo bicho; pelo povo bom e pelo povo ruim também, para que evoluam”, acrescentou.