Petrópolis: sem espaço em cemitério, vítimas da chuva são enterradas em morro

REUTERS/Ricardo Moraes

Os sepultamentos das vítimas das chuvas de Petrópolis estão sendo feitos em um morro que fica atrás do cemitério, devido à falta de espaço no local para o enterro dos corpos.

O acesso ao novo local das covas é difícil, e pessoas criticam o descaso e a falta de estrutura para os enterros. Uma mãe, que perdeu a filha nos ônibus arrastados pela enxurrada na terça, não conseguiu dar o último adeus à filha.

“Não pude nem ir lá para dar o último adeus para minha filha, sem condições de subir”, relatou. “Não tem onde pisar, você tem que estar pisando em sepultura de outras pessoas que acabaram de ser sepultadas”, disse mulher.

Nem mesmo o cemitério da cidade escapou dos deslizamentos de terra causados pelo temporal, que destruiu várias sepulturas.

A prefeitura da cidade informou que, até o momento, 53 pessoas vítimas da chuva foram sepultadas no Cemitério do Centro. 

Nas funerárias da cidade, as pessoas se amontoam em busca de uma data e local para enterrar os entes queridos vítima das chuvas.

Além dos problemas na hora de enterrar seus entes queridos, muitas pessoas também estão tendo dificuldades com a liberação dos corpos pelo Instituto Médico Legal (IML) de Petrópolis. 

Pelo menos 110 corpos foram levados para o IML em um intervalo de 48 horas. Durante a última quinta-feira (17), muitos moradores precisaram aguardar, em pé e debaixo de sol, para conseguir informações sobre a identificação de parentes e amigos. Agentes da Secretaria Estadual de Vitimados anunciavam os nomes dos mortos em voz alta com frequência.

Algumas pessoas esperavam a liberação dos corpos desde quarta-feira (16). É o caso da Queila Teixeira, que perdeu o cunhado em um dos pontos de deslizamento. Ela classifica a espera como um prolongamento do sofrimento.

Uma força-tarefa, com a participação de agentes de diferentes órgãos, foi montada no IML para acelerar o processo. Dois caminhões frigoríficos são usados para a preservação dos corpos. Um gerador deve garantir a continuidade das ações mesmo em caso de falta de energia.

Cerca de 200 policiais civis foram mobilizados para agilizar a perícia e reforçar o policiamento na cidade. O grupo inclui peritos legistas e criminais, papiloscopistas, técnicos e auxiliares de necropsia, servidores de cartório e de diversas delegacias da Região Serrana.

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro montou uma unidade móvel com defensores e servidores com o objetivo de acolher e orientar os moradores.

O Ministério Público do Rio também deu início a um cadastro de pessoas desaparecidas. Com os nomes e as características físicas no banco de dados, as informações são cruzadas com bases de outros órgãos.

Juízes de Petrópolis também fazem um mutirão para organização dos documentos necessários para o processo de identificação das vítimas. O juiz Alexandre Teixeira de Souza, que acompanha os trabalhos, compara a situação de Petrópolis a um cenário de guerra.

Para aliviar o momento de dor, voluntários se mobilizam para levar água e comida aos parentes das vitimas no IML. Um deles é o motoboy Mateus Thomaz.  

Para respeitar a programação das famílias, a Prefeitura de Petrópolis optou por não realizar enterros coletivos. 

As fortes chuvas que atingiram a cidade já deixaram pelo menos 136 mortos, enquanto 213 pessoas seguem desaparecidas.

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